A língua inglesa tem 2 palavras para as quais só temos 1 em português: assessment (avaliação dos alunos) e evaluation (avaliação de cursos e projetos). Neste post falaremos apenas de assessment durante e ao final do processo de ensino e aprendizagem. Não exploraremos aqui a avaliação dos alunos que é possível fazer no início do processo, p.ex. para medir o conhecimento prévio que eles têm do conteúdo a ser trabalhado em uma disciplina.
Há uma rica diversidade de instrumentos e estratégias de avaliação que podem ser utilizados em EaD, como:
- questões objetivas ou fechadas (verdadeiro/falso, e/ou, múltipla escolha, correspondência, combinação, ordenação e preenchimento de espaços em branco, dentre outras)
- questões dissertativas ou abertas (de respostas mais curtas a longas redações)
- trabalhos escritos
- estudos de caso
- pesquisas de campo
- projetos (project-based learning)
- atividades práticas (como um concerto de um instrumentista, procedimentos médicos, uma peça de teatro, a produção de um software, a gravação de um vídeo etc.)
- portfólios
- autoavaliação e avaliação por pares (discutidas por Edmea Santos, 2006)
Tornar a avaliação o mais autêntica possível é também uma tendência interessante, tanto no sentido de avaliar habilidades que o aluno será desafiado a utilizar no mundo real (fora da academia), quanto de avaliar o aluno por métodos similares aos quais ele será avaliado na vida real. Cf. a Caixa de Ferramentas da Avaliação Autêntica.
O interessante post Grading 2.0: Evaluation in the Digital Age, que discute diversos desafios da avaliação na era digital, gerou um intenso debate que é comentado pelo conectivista George Siemens em Media Literacy: Making Sense Of New Technologies And Media.
Mas a avaliação que tem sido praticada em EaD no Brasil passa longe de toda essa riqueza. Movida pelas enormes turmas que se formam em muitas disciplinas e pela obsessão de preparar os alunos para as provas do ENEM e do ENADE, a escolha padrão tem sido um tipo específico de questão objetiva: testes de múltipla escolha com 5 alternativas. Estão inclusive em alta os cursos de "formação de professores" para a elaboração de questões de múltipla escolha – há toda uma ciência da pegadinha. A educação passa então a ter o sentido de treinar nossos alunos para enxergar o mundo por uma luneta com 5 alternativas, com 1 (e apenas 1) sempre correta, quando o objetivo da formação para o senso crítico é justamente o oposto: sensibilizar o ser humano para o fato de que é quase sempre possível enxergar a realidade por novas e múltiplas perspectivas, de que pode haver uma ou mais maneiras alternativas de resolver um problema - e não necessariamente apenas uma! Vamos assim treinando nossos alunos para uma perspectiva 1 em 5 que não lhes servirá em praticamente nada na vida real, e com um tipo de avaliação ao qual eles só serão submetidos se decidirem fazer algum concurso, ou seja, uma avaliação nada autêntica, porque não é assim que eles serão avaliados em sua vida pessoal e profissional. Daí progredimos naturalmente para os bancos de questões – que reforçam com incrível perfeição a ideia da educação bancária criticada por Paulo Freire, assim como os repositórios (ou bancos) de objetos de aprendizagem e os bancos de tutores.
Já há também uma ciência para a correção das questões dissertativas – onde elas ainda sobrevivem – com as rubricas. Cf. um guia e duas ferramentas para auxiliar a elaboraçaõ de rubricas: Rubistar e Rubrix. Onde a perspectiva sobre a realidade poderia se libertar das lunetas 1/5, ela se transforma em matrizes:
A palavra rubrica tem origem nos manuscritos medievais, indicando orientações para os serviços litúrgicos e o que deveria ser falado em missas. Outra escolha lexical infeliz – é incrível a capacidade da EaD escolher tantos nomes inadequados para definir seu próprio campo: tutor, objetos de aprendizagem, repositórios de conteúdo, bancos de questões, rubricas, design instrucional etc.
Outro problema dos modelos fordistas de EaD é que os professores ou tutores já recebem as avaliações prontas, ou seja, não têm liberdade nem para criar as avaliações que poderiam considerar mais adequadas a suas classes e aos conteúdos que trabalham com os alunos, nem para modificá-las. Terry Anderson (2003, p. 137-138) fala de um processo de design instrucional que continua durante a seqüência da aprendizagem (em que os professores podem interferir no que está sendo ensinado), ao invés de terminar antes que ocorra a interação aluno-conteúdo, que caracteriza o que ele chama de ‘instrução enlatada’ (canned instruction).
Infelizmente, todas essas características do ensino estruturado não são mais motivo de orgulho apenas da EaD, pois vêm rapidamente invadindo também a educação presencial.
Qual a sua visão sobre a avaliação em EaD?
Qual o cenário da avaliação na EaD em Portugal?
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Terry. Modes of interaction in Distance Education: recent developments and research questions. In: MOORE, Michael Grahame; ANDERSON, William G. (Ed.). Handbook of distance education. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2003. p. 129-144.
SANTOS, Edméa. Portfólio e cartografia cognitiva: dispositivos e interfaces para a prática da avaliação formativa em educação online. In: SILVA, Marco; SANTOS, Edméa (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online: fundamentos, interfaces e dispositivos, relatos de experiências. São Paulo: Loyola, 2006. p. 315-331.
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Este vídeo desenvolve um pouco os conceitos já trabalhados no post:
No Brasil, a exigência legal de provas presenciais dificulta a modernização do processo avaliativo na EaD. O aluno é obrigado a comparecer em determinado local, data e hora para realizar uma prova escrita, sem consulta, objetiva e com uma ou duas questões subjetivas. Todos as modalidades de avaliação utilizadas durante o curso (participação em fóruns, trabalhos, projetos) são desprezadas ou valorizadas pifiamente. A prova presencial é que vale.
ResponderExcluirDiante desse cenário, o aluno, cujo principal objetivo é obter sucesso no curso e se diplomar, concentrará seus esforços na preparação para o exame presencial. E aí? Nós, profissionais da EaD, temos por missão auxiliar o aluno a alcançar suas metas. O objetivo de utilizar modernos processos de avaliação para rever, corrigir e otimizar a aprendizagem tem que ser mantido, mas deve ser acrescido de orientações para a realização do exame presencial.
Nosso sistema de avaliação sofreu transformações, na medida em que se efetua a leitura das normativas de cada universidade quanto às certificações evitando assim problemas juridicos com os alunos.
ResponderExcluirO primeiro pensamento foi o de criação de uma ficha considerando avaliações qualitativas e as somativas. Mas depois de algum tempo nos encontramos em impasses perante a legislação que rege as avaliações e reavaliações. Conclusão, o sistema EaD por falta de espaço orientado com anterioridade tem de se adequar ao presencial.
E os tutores, não podem criar as avaliações MAS devem obrigatoriamente corrigi-las!!!!! Pergunto-me em que visão, nossa como tutor perante o conteúdo? na visão do professor -autor? ou o que?
mas as correções ocorrem em grupo e tentamos considerar uma união de pensamentos e critérios, ja que são muitos tutores e aproveitar o máximo dos alunos considerando a visão que no cotidiano nos fornece esta vivência, isso para o tutor que algum tempo com os Polos e conhece seus alunos. Os outros não sei... a subjetividade intrínseca de qualquer avaliação influi evidentemente.
No blog coletivo, adotei o sistema de rubrica, que era apresentado com antecedência aos alunos. Eles mesmos tentavam atingir o melhor dentro das suas possibilidades, gostei muito.
ResponderExcluirSobre rubrica, vejo aí um estrangeirismo só. Realmente, o sentido inicial é esse da liturgia, q vem de "algo assinalado em vermelho", mas é corrente o uso em inglês de americano da palavra "rubrics" para esse parâmetro de avaliação. Aqui no Brasil, se não me engano, costumo ver como tabela/escala, como as que são usadas há anos pelas unis na correção da redação no vestibular. Será q ficou como "rubrica" em EaD por escolha tradutória de algum autor da área? Pq me parece ser a msm coisa.
ResponderExcluirSb os cursos de formação de prof para formular questões de múltipla-escolha, não sabia da existência, mas minha 1a reação é ver de maneira positiva. Concordo que a múltipla-escolha tende a restringir o construto da prova, mas, considerando q em mts licenciaturas não se fala sobre teoria e prática de avaliação (a minha foi uma delas em q faltou esse importante assunto), parece-me válida qq tentativa de aperfeiçoar o conhecimento dos professores sb os instrumentos de avaliação. Como a múltipla-escolha é uma das atividades mais comuns em prova e, paradoxalmente, uma das mais difíceis de elaborar, é interessante que haja cursos sb isso.
ResponderExcluirAvaliação ....... http://youtu.be/y3qIle6cD-E
ResponderExcluirPara quem tem interesse na utilização de Fóruns como complemento à avaliação:
ResponderExcluirSistematização Empírica do Processo para Avaliação de Mensagens em Fóruns Educacionais Orientados à Tarefa. In: Aplicação do Modelo de Hierarquia Fuzzy COPPE-Cosenza para a Avaliação de Grupos Operativos em Fóruns Educacionais na Internet, Anexo VI. Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia de Produção, 2010.
Acesse http://api.adm.br/evalforum/?page_id=638
Muito interessantes estas orientações para serem aplicadas nos Fóruns. Obrigada
ExcluirDisponha, Maria Filomena. Navegue no site, acesse os documentos, talvez encontre outras informações interessantes.
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