quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Modelos em EaD: Tutoria

Um dos principais problemas enfrentados pela Educação a Distância no Brasil é a situação dos tutores.

A escolha da palavra já é infeliz. Para Bruno e Lemgruber (2009), a nomenclatura deveria ser descartada ou reconceituada:

estamos, intencionalmente, utilizando o termo professor-tutor por considerarmos que o tutor a distância é também um docente e não simplesmente um animador ou monitor neste processo, e muito menos um repassador de pacotes instrucionais. Este profissional, como mediador pedagógico do processo de ensino e de aprendizagem, é aquele que também assume a docência e, portanto, deve ter plenas condições de mediar conteúdos e intervir para a aprendizagem. Por isso, na prática, o professor-tutor é um docente que deve possuir domínio tanto tecnológico quanto didático, de conteúdo.
[...]
[não se justifica] a denominação de tutoria, que descaracteriza a função docente para profissionais que assumem a mediação pedagógica.”
Nesse sentido, é possível falar em precarização do trabalho docente na EaD:
É notável, sem dúvida, certa perversidade no tocante a essa pluralidade na docência, pois denota tanto a diluição do papel e da função do professor, quanto pode promover a desprofissionalização docente, na medida em que suas ações são retalhadas, fragmentadas e com elas todo o processo de ensino e de aprendizagem.”
Outra questão que reforça o rebaixamento do trabalho docente é a remuneração extremamente baixa que um tutor recebe por exemplo na UAB, além de essa remuneração se caracterizar como bolsa de duração limitada, o que não promove vinculação entre o tutor e a instituição. Como indicam Lapa e Pretto (2010), essa não institucionalização do trabalho docente caracteriza o trabalho dos tutores na UAB, contratados em regime precário para desempenhar o papel de professor, descrito em resoluções que:
enquadram esses profissionais como bolsistas, não lhes dando nem mesmo o direito a declaração de trabalho mencionando a função ‘professor’, evitando com isso a consolidação de vínculos empregatícios e a sua inserção na categoria simbólica de profissionais da educação. Em síntese, nessas condições, o que se tem é uma enorme precarização do trabalho docente, que se desdobra, na prática, entre outras coisas, por meio da baixa remuneração, que acaba por excluir profissionais qualificados, e da falta de reconhecimento profissional.”
O movimento Tutor é Professor vem discutindo e se mobilizando em relação a essa situação. 


Qual a sua visão sobre o tutor na EaD no Brasil? Dividir é a melhor estratégia?
 
E em Portugal e outros países de língua portuguesa, qual é a situação dos tutores ou docentes online?

17 comentários:

  1. Concordo com o posicionamento apresentado no texto: no Brasil procura-se "dar um jeitinho" sempre que possível para não criar vínculos empregatícios (e reduzir impostos) sem a menor preocupação com a falta de ética e, principalmente, com as consequências danosas dessa prática.
    Já trabalhei como tutor e trabalho há um certo tempo como formador de tutores e, em todos os casos, a palavra tutor é inadequada, pois sempre lidei com professores especialistas. O tutor tem que ser plenamente habilitado para atuar como professor e deve receber esse status (e os dividendos consequentes dele).
    A tutoria na forma de "bolsa" é uma forma de trapaça trabalhista, inconsequente e danosa para a EAD em geral. Mais correto seria uma contratação, ainda que por tempo limitado, que especificasse a qualificação de professor.
    Talvez, e apenas talvez, o termo tutor possa se referir a situações onde o curso é "acompanhado apenas", mas sem mediação pedagógica. A mediação peadagógica é o fator diferencial entre um curso com "tutor" ou com "professor".
    E em Portugal, como será?

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  2. Tenho feito, na rede social Linkedin, uma pesquisa muito incipiente e pessoal (pois não faço parte de grupo formal de pesquisa) sobre a precarização do trabalho docente. O foco tem sido, especificamente, no trabalho do tutor nas instituições Públicas e Privadas. Posso já vislumbrar , através dos posts, que os professores sabem da importância do seu trabalho de tutoria mas sentem que não são valorizados profissionalmente.Os Tutores dizem que há pouca interação com os professores conteudistas, que o pagamento de h/a é aviltante ( em média R$ 15,00) nas instituições privadas e, nas universidades públicas, recebem bolsas em torno de R$ 700,00 . Ainda estou engatinhando na pesquisa mas pretendo aprofundar. Comecei a procurar a legislação e posso adiantar que na visão do MEC, o tutor legalmente é um PROFESSOR com todos os direitos trabalhistas relacionados ao cargo.
    Quanto a situação em Portugal, assisti a uma palestra em um Congresso na UERJ onde, O Prof Dr. Andre Barata ( Universidade da Beira-Portugal) nos trouxe a informação de que contratos de trabalho docente em Portugal, tem sido renovados, em alguns casos, mensalmente. Como sobreviver sabendo que um mês depois você não terá emprego?
    No Brasil já se tem contratos renovados a cada três meses. Precisamos, mesmo, de um espaço de discussão e ações efetivas para melhoria do quadro atual da Educação e em especial ao Ensino a Distância.
    Um abraço
    Rosalia Rocha

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    1. Olá Rosalia,
      achei interessante você abordar essa parte do contrato renovado a cada 03 meses. Na ultima Universidade Federal que trabalhei as disciplinas davam mais de 02 meses e o tutor tinha direito a apenas 02 bolsas. Quando entrei para o departamento me deram duas turmas alegando que eram poucos alunos por turma.Eu questionei a coordenação e realmente so terminei o contrato em consideração aos discentes, fiz questão de deixar isso registrado na Instituição que parece não ter entendido muito bem...rsrsrs
      Outro dia vendo os editais para tutoria online em outras instituições públicas vi o seguinte texto: mesmo que você exerça mais de uma função pela UAB terá direito apenas a uma bolsa.
      Em relação a sua pesquisa dou a dica de fazer seu trabalho de campo vivenciando o que é ser tutora nessas instituições. Fiz isso em três Universidades Públicas diferentes e resolvi na ultima pegar todo o material para transformar em artigo. Percebi nesse tempo de trabalho de campo que há muito silêncio ainda em relação ao papel do tutor nas Instituições.Sendo assim, talvez com o trabalho de campo sua pesquisa fique muito mais rica em detalhes.Abraços.

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  3. A experiência que temos na Universidade aberta é que a tutoria é muito valorizada.
    Primeiramente o tutor deve ser alguém que tenha algumas competências técnicas e pessoais.
    Também realiza um curso para ser tutor, aprende o modelo pedagógico da universidade, em sua maioria já teve experiência na área de ead, é mestre ( fez mestrado ou esta realizando....ou doutorado ou está realizando) e tem experiência em educação.
    É orientado para ter uma escrita profissional e que seja motivadora para o aluno construir o conhecimentos, que seja mediadora nas reflexões e que ajude a sanar dúvidas de conteúdos e técnicas.
    Tem um limite de alunos e turmas.
    Sua remuneração esta orientada partir da quantidade de alunos que tem e o trabalho de avaliação que realiza.
    Em geral estas são algumas das características do tutor da Universidade Aberta.
    Daniela Melaré

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    1. Estou falando da Universidade Aberta de Portugal!
      Daniela Melaré

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    2. Daniela,
      Obrigado por suas informações de como funciona a tutoria aí na Universidade Aberta de Lisboa. Fiquei com uma curiosidade, mesmo com essa valorização dos tutores aí, há equiparação aos professores em termos de condição de trabalho e de salário?

      Abraços

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    3. Olá, grupo,
      Vejo que as contribuições estão surgindo. Muito bom partilhar...Também fiquei instigada, como o Márcio Leitão, sobre o funcionamento da tutoria na Universidade Aberta de Lisboa e faço o mesmo questionamento à Daniela Melaré.
      Abraços

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    4. Daniela,
      please, vai nos deixar aqui curiosos, eu e a Rosalia, por favor mate nossa curiosidade sobre a questão que mencionei! Agradeço antecipadamente.

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    5. Olá Marcio e Rosalina, tudo bem? obrigada pela pergunta.

      "Fiquei com uma curiosidade, mesmo com essa valorização dos tutores aí, há equiparação aos professores em termos de condição de trabalho e de salário?"

      É uma crescente estas condições, mas não se equipara ainda os termos e condições de salários.

      O docente responsável tem uma série de responsabilidades ( pedagógicas, e de conteúdo) dentro do modelo pedagógico da universidade, que estão muito além do trabalho que o tutor realiza.

      Os modelos pedagógicos de trabalho na educação a distância também são responsáveis por essa valorização do tutor (enquanto trabalho, perfil, formas de atuação e responsabilidades).

      Vamos dialogando.

      Abraços Daniela Melaré

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    6. Daniela,
      muito obrigado pela resposta! Só fiquei com uma outra dúvida: qual a média de alunos por tutor?

      abraços

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  4. Obrigado colegas pelas observações e opportunidades de reflexões.

    Já temos, em situações não pontuais, uma precarização do trabalho docente em geral, com excessões pontuais e não representativas. E a exemplo dos vícios do modelo educacional presencial vigente que estão sendo repetidos na EaD, a valorização do professor segue os mesmos vícios, agora ampliados pela desvinculação hipócrita das funções de professor e tutor. PROFESSOR É TUTOR, É DESENHISTA DA EDUCAÇÃO, etcoetera. Tá na hora de voltarmos a Portugal (ñ q além mar não tenhamos problemas também) e reaprendermos algumas coisas básicas: colocar um U de verdade na frente do AB (e rever o conceito do A também não faria mal); projeto, politicas e planos educacionais de longo prazo com revisão periódica; respeito ao trabalho docente, que mais ...!

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  5. Enviado por um colega professor, que recebeu por emaill:

    "Car@ colega,

    a pedido da Instituição X indiquei você para ser tutor de um dos cursos que eles oferecem ao corpo docente das suas universidades. Você foi escolhido porque já finalizou com sucesso alguns dos cursos oferecidos e viu como eles são interessantes para quem quer se aperfeiçoar na docência no Ensino Superior.
    Embora não tenhamos ainda recursos para remunerar esse trabalho, lembro que no Plano de Carreira que está sendo implantado "ministrar curso" conta pontos.
    Em breve o pessoal da Instituição X entrará em contato com você oferecendo um curso para tutores, que dura duas semanas (e também conta pontos ;-)).
    Desde já agradecemos a sua participação!

    abraço"

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  6. Mais uma pérola para o anedotário da educação no pais "Embora não tenhamos ainda recursos para remunerar esse trabalho, lembro que no Plano de Carreira que está sendo implantado "ministrar curso" conta pontos."

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  7. Tambem discordo totalmente dessa nomenclatura medieval de tutor apropriada pela EaD. Na educação superior, oferecida na modalidade a distância, seria util se pensar numa carreira para o professor, em níveis. Ex: professor-produtor; professor-orientador; professor-tutor; etc. Cada nível poderia corresponder a atribuições especificas, mas integradas visando a aprendizagem dos sujeitos. O que acham? CMR

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  8. Tutor, professor, mediador pedagógico, professor-tutor, professor conteudista, tutor/professor. Sim, também tenho medo e receio dessas terminologias e mais ainda da possiblidade de extração da mais-valia a partir delas. Acredito que todo tutor deva ser professor e fim de papo. Também me preocupa muito o quantitativo de alunos por tutor. Atualmente trabalho no planejamento, implementação e gestão de um curso na modalidade EAD para EJA na Rede Pública da Cidade do Rio de Janeiro e estamos convictos e determinados a manter a premissa de que tutor é professor. Estou agora lendo o seu livro WEB 2.0 e Redes Sociais na Educação que obtive no 19º Congresso Int'l da ABED onde apresentamos o nosso trabalho no formato pôster. Parabéns pelo livro e pelo espaço aqui de discussão e aprendizagem. Grande abraço,

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  9. Em primeiro lugar é uma honra poder contribuir nesta discussão onde João Mattar é nossa referência nos cursos de Capacitação UAB Santa Maria RS UFSM, onde sou cursista desde o ano passado. Enfim, compartilho da necessidade de valorização do professor EaD. Pois participo de vários cursos nesta modalidade e vejo que interatividade requer preparo o que apenas o curso de graduação não oferece.
    Acredito que o tutor deva receber uma nomenclatura à altura e remuneração também. Sendo multidisciplinar, capaz de responder a todas as exigências do cargo, a motivação seja desenvolver o ambiente com contribuições ricas em conhecimento. Obrigada!

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