quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Modelos em EaD: Avaliação

A língua inglesa tem 2 palavras para as quais só temos 1 em português: assessment (avaliação dos alunos) e evaluation (avaliação de cursos e projetos). Neste post falaremos apenas de assessment durante e ao final do processo de ensino e aprendizagem. Não exploraremos aqui a avaliação dos alunos que é possível fazer no início do processo, p.ex. para medir o conhecimento prévio que eles têm do conteúdo a ser trabalhado em uma disciplina.

Há uma rica diversidade de instrumentos e estratégias de avaliação que podem ser utilizados em EaD, como: 

  • questões objetivas ou fechadas (verdadeiro/falso, e/ou, múltipla escolha, correspondência, combinação, ordenação e preenchimento de espaços em branco, dentre outras)
  • questões dissertativas ou abertas (de respostas mais curtas a longas redações)
  • trabalhos escritos
  • estudos de caso
  • pesquisas de campo
  • projetos (project-based learning)
  • atividades práticas (como um concerto de um instrumentista, procedimentos médicos, uma peça de teatro, a produção de um software, a gravação de um vídeo etc.)
  • portfólios
  • autoavaliação e avaliação por pares (discutidas por Edmea Santos, 2006)
Uma estratégia interessante é a negociação dos critérios de avaliação com os próprios alunos, que podem p.ex. propor, individualmente ou em grupo, os critérios que consideram adequados para a avaliação das atividades que desenvolverão.

Tornar a avaliação o mais autêntica possível é também uma tendência interessante, tanto no sentido de avaliar habilidades que o aluno será desafiado a utilizar no mundo real (fora da academia), quanto de avaliar o aluno por métodos similares aos quais ele será avaliado na vida real. Cf. a Caixa de Ferramentas da Avaliação Autêntica.

O interessante post Grading 2.0: Evaluation in the Digital Age, que discute diversos desafios da avaliação na era digital, gerou um intenso debate que é comentado pelo conectivista George Siemens em Media Literacy: Making Sense Of New Technologies And Media.

Mas a avaliação que tem sido praticada em EaD no Brasil passa longe de toda essa riqueza. Movida pelas enormes turmas que se formam em muitas disciplinas e pela obsessão de preparar os alunos para as provas do ENEM e do ENADE, a escolha padrão tem sido um tipo específico de questão objetiva: testes de múltipla escolha com 5 alternativas. Estão inclusive em alta os cursos de "formação de professores" para a elaboração de questões de múltipla escolha – há toda uma ciência da pegadinha. A educação passa então a ter o sentido de treinar nossos alunos para enxergar o mundo por uma luneta com 5 alternativas, com 1 (e apenas 1) sempre correta, quando o objetivo da formação para o senso crítico é justamente o oposto: sensibilizar o ser humano para o fato de que é quase sempre possível enxergar a realidade por novas e múltiplas perspectivas, de que pode haver uma ou mais maneiras alternativas de resolver um problema - e não necessariamente apenas uma! Vamos assim treinando nossos alunos para uma perspectiva 1 em 5 que não lhes servirá em praticamente nada na vida real, e com um tipo de avaliação ao qual eles só serão submetidos se decidirem fazer algum concurso, ou seja, uma avaliação nada autêntica, porque não é assim que eles serão avaliados em sua vida pessoal e profissional. Daí progredimos naturalmente para os bancos de questões – que reforçam com incrível perfeição a ideia da educação bancária criticada por Paulo Freire, assim como os repositórios (ou bancos) de objetos de aprendizagem e os bancos de tutores.

Já há também uma ciência para a correção das questões dissertativas – onde elas ainda sobrevivem – com as rubricas. Cf. um guia e duas ferramentas para auxiliar a elaboraçaõ de rubricas: Rubistar e Rubrix. Onde a perspectiva sobre a realidade poderia se libertar das lunetas 1/5, ela se transforma em matrizes:


A palavra rubrica tem origem nos manuscritos medievais, indicando orientações para os serviços litúrgicos e o que deveria ser falado em missas. Outra escolha lexical infeliz – é incrível a capacidade da EaD escolher tantos nomes inadequados para definir seu próprio campo: tutor, objetos de aprendizagem, repositórios de conteúdo, bancos de questões, rubricas, design instrucional etc.

Outro problema dos modelos fordistas de EaD é que os professores ou tutores já recebem as avaliações prontas, ou seja, não têm liberdade nem para criar as avaliações que poderiam considerar mais adequadas a suas classes e aos conteúdos que trabalham com os alunos, nem para modificá-las. Terry Anderson (2003, p. 137-138) fala de um processo de design instrucional que continua durante a seqüência da aprendizagem (em que os professores podem interferir no que está sendo ensinado), ao invés de terminar antes que ocorra a interação aluno-conteúdo, que caracteriza o que ele chama de ‘instrução enlatada’ (canned instruction).

Infelizmente, todas essas características do ensino estruturado não são mais motivo de orgulho apenas da EaD, pois vêm rapidamente invadindo também a educação presencial.

Qual a sua visão sobre a avaliação em EaD? 

Qual o cenário da avaliação na EaD em Portugal?


REFERÊNCIAS

ANDERSON, Terry. Modes of interaction in Distance Education: recent developments and research questions. In: MOORE, Michael Grahame; ANDERSON, William G. (Ed.). Handbook of distance education. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2003. p. 129-144.

SANTOS, Edméa. Portfólio e cartografia cognitiva: dispositivos e interfaces para a prática da avaliação formativa em educação online. In: SILVA, Marco; SANTOS, Edméa (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online: fundamentos, interfaces e dispositivos, relatos de experiências. São Paulo: Loyola, 2006. p. 315-331.

***

Este vídeo desenvolve um pouco os conceitos já trabalhados no post:


9 comentários:

  1. No Brasil, a exigência legal de provas presenciais dificulta a modernização do processo avaliativo na EaD. O aluno é obrigado a comparecer em determinado local, data e hora para realizar uma prova escrita, sem consulta, objetiva e com uma ou duas questões subjetivas. Todos as modalidades de avaliação utilizadas durante o curso (participação em fóruns, trabalhos, projetos) são desprezadas ou valorizadas pifiamente. A prova presencial é que vale.
    Diante desse cenário, o aluno, cujo principal objetivo é obter sucesso no curso e se diplomar, concentrará seus esforços na preparação para o exame presencial. E aí? Nós, profissionais da EaD, temos por missão auxiliar o aluno a alcançar suas metas. O objetivo de utilizar modernos processos de avaliação para rever, corrigir e otimizar a aprendizagem tem que ser mantido, mas deve ser acrescido de orientações para a realização do exame presencial.

    ResponderExcluir
  2. Nosso sistema de avaliação sofreu transformações, na medida em que se efetua a leitura das normativas de cada universidade quanto às certificações evitando assim problemas juridicos com os alunos.
    O primeiro pensamento foi o de criação de uma ficha considerando avaliações qualitativas e as somativas. Mas depois de algum tempo nos encontramos em impasses perante a legislação que rege as avaliações e reavaliações. Conclusão, o sistema EaD por falta de espaço orientado com anterioridade tem de se adequar ao presencial.
    E os tutores, não podem criar as avaliações MAS devem obrigatoriamente corrigi-las!!!!! Pergunto-me em que visão, nossa como tutor perante o conteúdo? na visão do professor -autor? ou o que?
    mas as correções ocorrem em grupo e tentamos considerar uma união de pensamentos e critérios, ja que são muitos tutores e aproveitar o máximo dos alunos considerando a visão que no cotidiano nos fornece esta vivência, isso para o tutor que algum tempo com os Polos e conhece seus alunos. Os outros não sei... a subjetividade intrínseca de qualquer avaliação influi evidentemente.

    ResponderExcluir
  3. No blog coletivo, adotei o sistema de rubrica, que era apresentado com antecedência aos alunos. Eles mesmos tentavam atingir o melhor dentro das suas possibilidades, gostei muito.

    ResponderExcluir
  4. Sobre rubrica, vejo aí um estrangeirismo só. Realmente, o sentido inicial é esse da liturgia, q vem de "algo assinalado em vermelho", mas é corrente o uso em inglês de americano da palavra "rubrics" para esse parâmetro de avaliação. Aqui no Brasil, se não me engano, costumo ver como tabela/escala, como as que são usadas há anos pelas unis na correção da redação no vestibular. Será q ficou como "rubrica" em EaD por escolha tradutória de algum autor da área? Pq me parece ser a msm coisa.

    ResponderExcluir
  5. Sb os cursos de formação de prof para formular questões de múltipla-escolha, não sabia da existência, mas minha 1a reação é ver de maneira positiva. Concordo que a múltipla-escolha tende a restringir o construto da prova, mas, considerando q em mts licenciaturas não se fala sobre teoria e prática de avaliação (a minha foi uma delas em q faltou esse importante assunto), parece-me válida qq tentativa de aperfeiçoar o conhecimento dos professores sb os instrumentos de avaliação. Como a múltipla-escolha é uma das atividades mais comuns em prova e, paradoxalmente, uma das mais difíceis de elaborar, é interessante que haja cursos sb isso.

    ResponderExcluir
  6. Avaliação ....... http://youtu.be/y3qIle6cD-E

    ResponderExcluir
  7. Para quem tem interesse na utilização de Fóruns como complemento à avaliação:
    Sistematização Empírica do Processo para Avaliação de Mensagens em Fóruns Educacionais Orientados à Tarefa. In: Aplicação do Modelo de Hierarquia Fuzzy COPPE-Cosenza para a Avaliação de Grupos Operativos em Fóruns Educacionais na Internet, Anexo VI. Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia de Produção, 2010.
    Acesse http://api.adm.br/evalforum/?page_id=638

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito interessantes estas orientações para serem aplicadas nos Fóruns. Obrigada

      Excluir
    2. Disponha, Maria Filomena. Navegue no site, acesse os documentos, talvez encontre outras informações interessantes.

      Excluir