Outra expressão que se tornou cult em Educação a Distância é "objetos de aprendizagem". Cf. publicação da Educause de 2002: METROS, Susan; BENNETT, Kathleen.
Learning Objects in Higher Education; em 2004, o NMC publicou
Guidelines for Authors of Learning Objects (Rachel S. Smith).
A expressão é infeliz, pois ressalta a coisificação a que a educação tem sido reduzida, principalmente nos modelos de EaD fordistas. Enquanto o ser-em-si para Sartre é a coisa que não se conhece, que não tem consciência de si, o ser-para-si é aquele que tem consciência de si, que consegue se colocar como objeto para si próprio. Não queremos uma educação povoada de seres-em-si (coisas) desconectadas e descontextualizadas, mas de sujeitos que interajam enquanto sujeitos, de seres-para-si e para-os-outros. Não queremos um conteúdo objetificado de aprendizagem que se torne assim tão distante dos alunos-sujeitos, ensimesmado. Por que então utilizar a expressão "objetos de aprendizagem" se já temos nomes para diversos outros recursos que dão conta do recado, como textos, imagens, animações, vídeos etc.?
Mas deixando de lado a implicância com a expressão, o que significa objetos de aprendizagem?
Robson Santos da Silva (2011, p. 22) explora algumas definições, como a do IEEE: elementos que podem ser utilizados para aprendizagem, educação e treinamento. Mas ora, continuamos aqui sem avançar muito! Para Rehak e Mason (apud SILVA, 2011), a essência dos objetos de aprendizagem repousa sobre 4 características fundamentais: acessibilidade, reutilização, durabilidade e interoperabilidade. Assim, a possibilidade de serem modificados e operados a partir de diversos softwares e ambientes virtuais definiria o âmbito dos objetos de aprendizagem.
Se pensamos em um curso ou alguns recursos, pode ser interessante imaginar que eles possam ser transferidos sem maiores problemas técnicos de um ambiente ou ferramenta para outro. Entretanto, o sentido com que a expressão tem sido utilizada é mais delimitado: um pequeno elemento atomizado de um curso (algumas telas de Flash, um pequeno texto, uma atividade pontual etc.) que não pode ter conexão com outro objeto de aprendizagem (porque deve ser possível vendê-lo ou utilizá-lo separadamente do resto) e que está ligado a um
objetivo de aprendizagem específico. Uma coisa-em-si sem relação com as outras, autônoma, que basta a si mesma,
stand-alone. Nesse sentido, objetos de aprendizagem estão associados com as noções de bits de conhecimento, nacos, componentes, nozes, unidades etc. Essas imagens ajudam a reforçar a metáfora de uma educação-lego, como uma montagem de elementos soltos e produzidos sem intenção de conexão, ajudando assim naturalmente a formar indivíduos fragmentados.
Isso gera inúmeros problemas, como por exemplo o desafio de um objeto de aprendizagem ser produzido de maneira descontextualizada, pois a dependência do contexto afetaria sua portabilidade. David Wiley, em
The Reusability Paradox (2001), discute essa questão, argumentando que a reusabilidade e a eficácia pedagógica caminham em direções opostas:
Se um objeto de aprendizagem é útil em um contexto particular, não seria reutilizável em um contexto distinto; e se um objeto de aprendizagem é reutilizável em muitos contextos, não seria particularmente útil em nenhum. A esperada neutralidade de um objeto de aprendizagem (assim como do
objetivo de aprendizagem específico ao qual ele estaria associado) seria incompatível com uma educação dialógica e interativa, mas mais adequada à educação bancária criticada por Paulo Freire.
Nessa direção, surgiu a noção de repositórios de objetos de aprendizagem, como se fosse possível
depositar as peças do lego em uma caixa, selecionar algumas, montar um boneco e... estamos educando (ou educados)!
A perspectiva deste post classifica os objetivos de aprendizagem no mesmo campo semântico em que classificamos nesta série no blog os
objetivos de aprendizagem, as
formas de biscoito e a
tutoria, em oposição a outro campo semântico, da
interatividade e do
conectivismo.
O que você pensa sobre os objetos de aprendizagem?
Referência
SILVA, Robson Santos da.
Objetos de aprendizagem para educação a distância. São Paulo: Novatec, 2011.
Observação: as imagens do post não foram
construídas com intenção de ironia - são retiradas de publicações que as utilizam como ilustrações para o conceito. Cf. mais ilustrações e discussões sobre o conceito no
EduTech Wiki.
***
Este vídeo continua a conversa lá no YouTube: