Um post da autoria do Professor António Teixeira (Vice-presidente da European Distance and E-learning Network).
Em resposta ao desafio que me foi lançado pelo Paulo Simões e na esteira da interessante reflexão do Prof. António Figueiredo e também da troca de impressões com o João Mattar neste mesmo curso, decidi focar o meu breve contributo na problemática dos MOOC. Este é, certamente, o debate do momento. De modo quase surpreendente, a oportunidade/ameaça colocada pelo desenvolvimento dos MOOC tomou conta da discussão internacional na área do EaD nos últimos meses. Na realidade, mais do que um tema da comunidade de investigadores ou practioners, os MOOC são compreendidos hoje como uma das mais decisivas problemáticas com que se deparam as lideranças académicas de todo o mundo. O que explica este fenómeno surpreendente? Será este súbito interesse sustentável?
Uma possível resposta à segunda questão foi há pouco sugerida por Larry Johnson, o mentor e coordenador dos Horizon reports. Com efeito, só um desenvolvimento no EaD conheceu até hoje um impacto tão grande de modo tão rápido. Tratou-se do «Second Life». Todavia, o sucesso desta tecnologia foi tão acelerado e imediato quanto fugaz. Dois ou três anos depois do seu aparecimento, já estava praticamente ultrapassada. Terá o fenómeno dos MOOC o mesmo destino? Uma coisa parece certa, dado o tipo de disseminação deste desenvolvimento. Dentro de dois/três anos ou os MOOC farão parte da oferta regular das instituições de ensino superior ou todo este interesse estará definitivamente ultrapassado.
Qual é, então, a razão para todo este enorme interesse pelo tema? A principal razão prende-se com o facto de que um conjunto de universidades americanas de topo, da Ivy League, terem decidido avançar de modo decisivo no lançamento de iniciativas cujo potencial parece ser enorme (Coursera, edX e Udacity). Mais ainda, estas iniciativas foram capazes de desenvolver um modelo de negócio comercialmente viável e que atraiu o investimento do capital de risco. De facto, o crescimento da comunidade de utilizadores do Coursera, iniciado no início deste ano, está a crescer a um ritmo fenomenal, mais elevado ainda do que o que caracterizou o Facebook.
Assim se compreende porque razão este negócio emergente despertou tanto a atenção das lideranças universitárias. Com efeito, o sucesso deste modelo de negócio baseia-se num princípio de globalização económica o qual conduz a uma perigosa conclusão. Com efeito, a disseminação da oferta educativa massiva dos melhores produtores de conteúdo, associada a redes mundiais de instituições avaliadoras, conduzirá a uma efetiva globalização do mercado educacional, o que implicará uma redução dos operadores. Em suma, as universidades da Ivy League por via de associações estratégicas entre elas poderão vir a dominar o mercado mundial da educação superior, afastando do mesmo muitos, senão a maior parte, dos atuais operadores. As previsões mais otimistas apontam mesmo para uma quase completa erradicação das instituições universitárias nacionais.
Ora, importa notar que a ameaça dos MOOCs americanos que está a conduzir o interesse referido atrás não se relaciona com o seu modelo original, de natureza conectivista. O modelo que, no seu post, o Prof. António Figueiredo elegeu como mais interessante. Não são efetivamente os c-MOOC que estão no centro do interesse, mas os x-MOOC, ou os MOOC centrados na distribuição de conteúdo. Claro que os promotores destas iniciativas têm no essencial uma boa compreensão das limitações do modelo que utilizam. Por isso, também os seus MOOC estão em evolução, tendo vindo a integrar ferramentas que valorizam o apoio à aprendizagem e a autonomia do estudante. No fundo o mercado segue os desejos dos seus consumidores.
Aparentemente o dilema da escolha entre os modelos dominantes de MOOC é, pois, claro. Necessariamente, coloca-se a pergunta sobre a sua ultrapassagem. Haverá uma saída? Conseguiremos encontrar um modelo de compromisso? Para utilizar a categorização proposta no texto do Prof. Figueiredo, poderá esse compromisso juntar as características disruptiva e desconstrutiva a um modelo de negócio escalável e que garanta uma avaliação das aprendizagens confiável? Em suma um modelo inovador que não se baseie nas skills produtivas, nem no conhecimento colaborativo, mas no talento de comunicar e criar?
Tudo indica que nos próximos meses iremos assistir ao surgimento de um conjunto infindável de diferentes tipos de MOOCs. Creio que este contexto de excesso produzirá um modelo mais equilibrado dos que conhecemos neste momento, que garanta um compromisso entre a grande escala e a qualidade e integridade da experiência de aprendizagem flexível. Algo, no fundo, historicamente semelhante ao que levou as Universidades Abertas europeias a regenerar o movimento dos Recursos Educacionais Abertos, meia década atrás.
Todavia, creio também que a verdadeira capacidade disruptiva do movimento de abertura da educação, não reside nos cursos e nos seus modelos, mas nas instituições e respetivos modelos. O futuro alternativo dos MOOCs tem de ser, a meu ver, procurado nos modelos institucionais flexíveis centrados na inovação (Cf. TEIXEIRA, António; “Desconstruindo a universidade: Modelos universitários emergentes mais abertos, flexíveis e sustentáveis”, RED - Revista de Educación a Distancia, XI:32, 2012 (accessible in http://www.um.es/ead/red/32).
Em resposta ao desafio que me foi lançado pelo Paulo Simões e na esteira da interessante reflexão do Prof. António Figueiredo e também da troca de impressões com o João Mattar neste mesmo curso, decidi focar o meu breve contributo na problemática dos MOOC. Este é, certamente, o debate do momento. De modo quase surpreendente, a oportunidade/ameaça colocada pelo desenvolvimento dos MOOC tomou conta da discussão internacional na área do EaD nos últimos meses. Na realidade, mais do que um tema da comunidade de investigadores ou practioners, os MOOC são compreendidos hoje como uma das mais decisivas problemáticas com que se deparam as lideranças académicas de todo o mundo. O que explica este fenómeno surpreendente? Será este súbito interesse sustentável?
Uma possível resposta à segunda questão foi há pouco sugerida por Larry Johnson, o mentor e coordenador dos Horizon reports. Com efeito, só um desenvolvimento no EaD conheceu até hoje um impacto tão grande de modo tão rápido. Tratou-se do «Second Life». Todavia, o sucesso desta tecnologia foi tão acelerado e imediato quanto fugaz. Dois ou três anos depois do seu aparecimento, já estava praticamente ultrapassada. Terá o fenómeno dos MOOC o mesmo destino? Uma coisa parece certa, dado o tipo de disseminação deste desenvolvimento. Dentro de dois/três anos ou os MOOC farão parte da oferta regular das instituições de ensino superior ou todo este interesse estará definitivamente ultrapassado.
Qual é, então, a razão para todo este enorme interesse pelo tema? A principal razão prende-se com o facto de que um conjunto de universidades americanas de topo, da Ivy League, terem decidido avançar de modo decisivo no lançamento de iniciativas cujo potencial parece ser enorme (Coursera, edX e Udacity). Mais ainda, estas iniciativas foram capazes de desenvolver um modelo de negócio comercialmente viável e que atraiu o investimento do capital de risco. De facto, o crescimento da comunidade de utilizadores do Coursera, iniciado no início deste ano, está a crescer a um ritmo fenomenal, mais elevado ainda do que o que caracterizou o Facebook.
Assim se compreende porque razão este negócio emergente despertou tanto a atenção das lideranças universitárias. Com efeito, o sucesso deste modelo de negócio baseia-se num princípio de globalização económica o qual conduz a uma perigosa conclusão. Com efeito, a disseminação da oferta educativa massiva dos melhores produtores de conteúdo, associada a redes mundiais de instituições avaliadoras, conduzirá a uma efetiva globalização do mercado educacional, o que implicará uma redução dos operadores. Em suma, as universidades da Ivy League por via de associações estratégicas entre elas poderão vir a dominar o mercado mundial da educação superior, afastando do mesmo muitos, senão a maior parte, dos atuais operadores. As previsões mais otimistas apontam mesmo para uma quase completa erradicação das instituições universitárias nacionais.
Ora, importa notar que a ameaça dos MOOCs americanos que está a conduzir o interesse referido atrás não se relaciona com o seu modelo original, de natureza conectivista. O modelo que, no seu post, o Prof. António Figueiredo elegeu como mais interessante. Não são efetivamente os c-MOOC que estão no centro do interesse, mas os x-MOOC, ou os MOOC centrados na distribuição de conteúdo. Claro que os promotores destas iniciativas têm no essencial uma boa compreensão das limitações do modelo que utilizam. Por isso, também os seus MOOC estão em evolução, tendo vindo a integrar ferramentas que valorizam o apoio à aprendizagem e a autonomia do estudante. No fundo o mercado segue os desejos dos seus consumidores.
Aparentemente o dilema da escolha entre os modelos dominantes de MOOC é, pois, claro. Necessariamente, coloca-se a pergunta sobre a sua ultrapassagem. Haverá uma saída? Conseguiremos encontrar um modelo de compromisso? Para utilizar a categorização proposta no texto do Prof. Figueiredo, poderá esse compromisso juntar as características disruptiva e desconstrutiva a um modelo de negócio escalável e que garanta uma avaliação das aprendizagens confiável? Em suma um modelo inovador que não se baseie nas skills produtivas, nem no conhecimento colaborativo, mas no talento de comunicar e criar?
Tudo indica que nos próximos meses iremos assistir ao surgimento de um conjunto infindável de diferentes tipos de MOOCs. Creio que este contexto de excesso produzirá um modelo mais equilibrado dos que conhecemos neste momento, que garanta um compromisso entre a grande escala e a qualidade e integridade da experiência de aprendizagem flexível. Algo, no fundo, historicamente semelhante ao que levou as Universidades Abertas europeias a regenerar o movimento dos Recursos Educacionais Abertos, meia década atrás.
Todavia, creio também que a verdadeira capacidade disruptiva do movimento de abertura da educação, não reside nos cursos e nos seus modelos, mas nas instituições e respetivos modelos. O futuro alternativo dos MOOCs tem de ser, a meu ver, procurado nos modelos institucionais flexíveis centrados na inovação (Cf. TEIXEIRA, António; “Desconstruindo a universidade: Modelos universitários emergentes mais abertos, flexíveis e sustentáveis”, RED - Revista de Educación a Distancia, XI:32, 2012 (accessible in http://www.um.es/ead/red/32).